domingo, 27 de setembro de 2009

Minha história como o EaD

Fiz várias buscas sobre a História do EaD e os principais eventos se repetem, alguns mais cronológicos outros mais dissertativos (Links interessantes com a cronologia do desenvolvimento do EaD, tanto no mundo como no Brasil : http://www.vdl.ufc.br/catedra/telematica/cronologia.htm#_Toc457632061 e http://www.vdl.ufc.br/catedra/telematica/cronologia.htm#bras ). Salta aos olhos que o caminho se define, lado a lado com a evolução dos meios de comunicação de massa. Cada movimento desta evolução que se define pela necessidade da criatividade em busca de alternativas no sentido de diminuir a distância entre quem detém o conhecimento e quem não o possui ainda, mas vê nele a possibilidade de aprimoramento e desenvolvimento de autonomia. O vértice deste desenvolvimento, a meu ver, é necessidade e a vontade de quem busca a informação. Nas escolas tradicionais o aluno se conduz, ou é conduzido, aos templos de difusão do conhecimento, mas nem sempre é portador da motivação necessária ao aprendizado. A instrução formal, pré-estabelece aquilo que teoricamente seria necessário saber para o pleno exercício da cidadania, diferente da educação à distância, que a iniciativa da busca é do próprio aluno e neste caso amparado por suas necessidades e com motivos suficientes para o seu aprendizado.

Ao invés de continuar repetindo datas e eventos importantes (sem negar que são de extrema importância) desta trajetória, penso que posso valer-me de minha experiência pessoal para construir uma outra historiografia, então farei uso desse exercício de reflexão para traçar o caminho percorrido por mim junto à educação a distância e com isso, tentar contribuir, senão com a cultura geral, mas com a estruturação de meus pensamentos.

Contava eu com aproximadamente quinze anos (já se vão trinta), era um aluno mediano, sem grandes talentos a evidenciar e estudava em uma destas escolas de tempo integral, onde em um período recebia educação formal curricular e em outro, formação profissionalizante. Esta instituição, como muitas outras, tinha o hábito de promover concursos com temas sazonais entre os alunos com diversas modalidades e gêneros de atividades. Em um desses concursos, o gênero escolhido foi o desenho a mão livre e em minha ingenuidade, arrisquei alguns rabiscos e entreguei ao meu professor como participante. Na exposição dos trabalhos selecionados não encontrei o meu e me pareceu óbvio já que todos os que ali se encontravam tinham características peculiares, o traço era impecável, jogos de luz e sombra, proporcionalidade e simetria entre outras características comuns aos desenhistas e artistas plásticos. Antes de um sentimento derrotista de incapacidade, pensei... – se foram meus jovens colegas os responsáveis pela assinatura de autoria daqueles trabalhos então não haveria de ser tão difícil de aprender, o que me faltava era técnica e habilidade para o gênero. Foi ai que convenci vinha avó (que naquela época me custeava), a pagar um daqueles cursos de desenho publicitário que comumente podia se ver em catálogos espalhados pelas agências de correios. O curso em questão prometia apostilas e material para atividades e exercícios. Fiquei encantado e fascinado ao receber todo o material em uma única remessa e durante um ano testei minha paciência e minha determinação. No ano seguinte pude ver o meu trabalho exposto entre os selecionados. Tratava-se de uma das publicações do Instituto Universal Brasileiro pelo qual nunca fui diplomado, mas que a partir do desequilíbrio provocado pela minha inaptidão ofereceu-me a possibilidade de desenvolver a habilidade que hoje pode ser apreciada por minha filha que sempre me solicita ajuda nesta modalidade de atividade. Posso afirmar categoricamente que este foi meu primeiro contato com a história do EaD e para os críticos do IUB posso garantir que exercícios e informações que garantem habilidades com certeza podem ser encontrados em seu material didático, a questão esta na motivação e na capacidade de auto-aprendiz de quem se dispõe a usa-lo.

Em outro momento de minha vida, agora um pouco mais velho, prestes a prestar concursos vestibulares, tive mais dois encontros com a História do EaD. O primeiro quando estudava na casa de uma colega de colégio para as provas bimestrais, seu pai era um prospero empresário da Indústria de Equipamentos Pesados de minha cidade e em um determinado momento ele se juntou a nós, como que averiguando nosso desempenho, começou a narrar a importância de se ter o conhecimento formal para conquistas no futuro já que ele sofrera muito por não ter tido tal oportunidade. Indagado por mim, como conquistará seu sucesso sem tal educação se dirigiu ao outro cômodo e voltou com algumas apostilas amareladas de um curso que havia feito ainda menino, por correspondência. O nome da instituição me foge a memória, mas o curso versava sobre fundamentos da engenharia mecânica. Naquele momento a imagem de quem busca alternativas ao seu destino ficou grado em minha memória. O terceiro encontro, quase na mesma época, se deu quando eu lia descomprometidamente uma Biografia de Mikhail Sergeevich Gorbachev, onde me deparei com a informação de que antes de cursar Direito na Universidade Estadual de Moscou teria se formado a distância em um curso de agronomia (provavelmente de nível técnico), e hoje ao investigar a história do Ead pude confirmar que esta possibilidade era real para os moradores das zonas rurais da extinta União Soviética.

Penso que estes relatos possam ser importantes (são para mim que hoje entendo a capacidade do EaD em possibilitar informação a pessoas que normalmente ficariam a margem da sociedade da informação) para ajudar a compreender que a história do EaD esta muito próxima de nosso cotidiano e porque acredito que a história vai alem de datas e eventos, vai ao cotidiano de pessoas simples, que como eu dificilmente contribuirão com feitos notáveis para a humanidade, mas que de pequenos relatos constrói uma história viva que pode ser transmitida de geração a geração, como aqueles relatos deixados por nossos pais e avós que receberam de seus pais e avós.

A propósito, um marco importante recente na história do EaD é a Lei de Diretrizes e Base da Educação Nacional de 1996, que em seu artigo 80 determina ao poder público o incentivo ao desenvolvimento e a veiculação de programas de Ensino a Distância em todos os níveis e modalidades de ensino e educação continuada.

domingo, 26 de julho de 2009

Inclusão imediata e inclusão tardia.

A modernidade traz consigo a marca da velocidade da informação. Nunca foi tão fácil se informar ou adquirir cultura neste conglomerado multifacetado e polifônico da produção cultural. As novas tecnologias nos possibilitam interagir com o pensamento no mundo, assim como instrumentalizar esta interação. O universo da rede nos oferece aquilo que esta sendo gerado no aqui agora. Podemos acessar textos, filmes, música e qualquer forma de expressão cultural produzida ao redor do mundo. No formato prático a tecnologia nos possibilita o auto-atendimento que vai desde uma consulta de preço nos terminais de código de barras em um supermercado, até as informações bancárias em um caixa eletrônico. Viver no mundo moderno é referendar os códigos binários por detrás das imagens virtuais apresentadas na tela de um terminal de computador.

Nossos filhos já nasceram em meio a todo esse conglomerado de informações. As soluções de problemas passam pela habilidade que desenvolvem frente às demandas tecnológicas. Alguns com acesso garantido pelas possibilidades financeiras, outros nem tanto. Alguns simplesmente conhecem termos e conceitos, mas raramente é apresentada a ampla possibilidade de interação. A inclusão imediata, aquela que perpassa o convívio de um mundo ligado em rede, não é garantida simplesmente, por estar neste mundo. Muitas comunidades ainda se encontram a margem desse mundo. Pobres, índios, deficientes, e todos aqueles que perdem o contato ou por exclusão social e econômica, ou por improbidade dos sistemas sociais e políticos que deveriam garanti-las. Ao se resolver o problema da inclusão imediata, que passa apenas por vontade política, não necessitaremos da inclusão tardia, daqui a alguns anos. Mas e hoje, como pensar estas comunidades que ao longo de suas vidas nenhum contato teve com a intrincada rede de tecnologias e que se vê obrigada a adaptar-se do dia para noite, idosos desesperados na frente de um caixa eletrônico, contando com a paciência de um atendente ou de um transeunte que possa lhe auxiliar. Pessoas sábias que ao se deparar com a ignorância dos mecanismos de comunicação tem sua auto estima abaladas. E ainda aquele que frente a seus filhos incluídos não são merecedores de atenção, já que estão ainda no século passado.

A inclusão imediata pode ser resolvida com vontade política de nossos governantes, mas a inclusão tardia pede mais, pede a percepção relativista que garanta ao ritmo particular de cada um, acesso aos meios. Se não for assim o mundo cibernético que possibilita a rapidez da informação sempre estará a serviço de poucos e desta forma novamente nos depararemos com novos apartheids que garantem as diferenças. Lembrando Nietzsche – para quem a cultura ainda é uma forma de poder, onde os que detêm o saber detêm o poder.