sexta-feira, 10 de setembro de 2010

SOBRE O CONCEITO DE ANGÚSTIA EM FREUD.

 
 




SOBRE O CONCEITO DE ANGÚSTIA EM FREUD.

Por Paulo Roberto Mermejo



 

INTRODUÇÃO

É muito comum encontrarmos em discussões triviais, pessoas falando sobre seus estados de angústia. Pessoas que se separaram de entes queridos, pessoas que não visualizam realisações futuras ou ainda pessoa que depois de um longo período de existência, já nada esperam do porvir.

A palavra esta sonorizada, nos mais diversos lugares, en conversas íntimas ou em um grupo de amigos. Porém fomos acometidos pela "angústia de investigar o real significado do termo".

Nossa investigação começou de uma forma bem generaliza, para posteriormente chegarmos a noção psicanalítica desenvolvida por Freud.

Na primeira parte do trabalho, buscamos em dicionários especializados a resposta a nossas dúvidas, não contente com esta visão unilateral, buscamos na filosofia, e posteriormente em um comentador da obra freudiana.

Neste caminho identificamos três grandes trabalhos do criador da psicanálise dos quais nos detemos em dois deles, o primeiro trata-se do texto de 1926 intitulado "Inibição, Sintomas e Ansiedade" e o segundo a conferência XXXII de 1933 intitulada "Ansiedade e vida instintual".

 
 

O CONCEITO DE MODO GERAL.

 
 

Se verificarmos Laplanche depararemos como duas situações em relação ao conceito de angústia. A primeira em se tratando de angústia ante ao perigo real e a segunda em relação ao mesmo conceito só que denominado automático . Tanto a primeira como a segunda noção foram introduzidas por Freud em 1926 - em Inibição, Sintoma e Angústia.

A angústia ante a um perigo real que em outras palavras trata da "angústia perante a um perigo anterior que constiui para o sujeito uma ameaça real"(Laplanche,1992 pag.26). O termo real presta-se a diversos entendimentos: Quando o real é substantivo "Não qualifica a própria angústia mas áquilo que a motiva"(Idem). Neste sentido está em oposição a angústia frente a pulsão. Para alguns autores a pulsão só seria geradora de ansiedade a medida que ameaçasse suscitar um perigo real, enquanto outros sustentam a existência de uma ameaça pulsional geradora de angústia.

Quanto a angústia automática devemos entender como uma "reação do sujeito sempre que se encontra numa situação traumática, isto é, submetido a um afluxo de excitação, de origem externa ou interna, que é incapaz de dominar. A angústia automática opõe-se par Freud ao sinal de Angústia"(Idem). Em ambos os casos Freud caracteriza a angústia como "um estado de desamparo psíquico do latente que é contrapartida de seu estado de desamparo biológico. (Idem). A angústia automática se dá assim como uma resposta espontânea do organismo a essa situação traumática.

Pois bem, como entendemos uma situação traumática? Laplanche a caracteriza como um afluxo incontrolável de excitações variadas demais e intensa demais. Uma idéia muito antiga em Freud encontrada já nos primeiros trabalhos, onde ele define angústia como sendo uma tensão libidinal acumulada e não descarregada. Assim angústia automática caracteriza um tipo de reação, sem nada dizer de origens internas ou externas das exitações traumáticas.

O termo é freqüentemente traduzido, no brasil por ansiedade. Em Arnoud ( 1976) O termo segue uma evolução proposta. "Em suas primeiras formulações Freud considerava a ansiedade ( angústia) como conseqüência de tensões sexuais somáticas reprimida (libido).Acreditava que as idéias libídicas, percebidas como perigosas, fossem reprimidas, e que a energia da libido, impedida de sua expressão normal, fosse transformada em ansiedade. Mais tarde substituiu esta interpretação pela concepção muito maís ampla de que a ansiedade seria um sinal de perigo, distinguindo agora entre ansiedade objetiva e ansiedade neurótica, em dependência do fato de que o perigo provenha do mundo externo ou de impulsos internos. No decorrer dos anos, os seguidores de Freud propuseram muitas modificações de suas opiniões . May por exemplo, caracterizou a angústia como apreensão estimulada pela ameaça a algum valor que o indivíduo estima essencial para sua existência como personalidade; H.S. Sullivan referiu-se a angústia como a um estudo de tensão que nasce da experiência de desaprovação nas relações interpessoais. "(Arnoud, 1976, pag.69).

ANGÚSTIA E FILOSOFIA

 
 

 
 

  Vários pensadores discorreram sobre este afeto especial que de uma fôrma ou de outra se encontram mesclados com diversos sentimentos mobilizadores do ser humano: "Assim O discreto e agradável sentimento de angústia vinculado ao afeto de amor até o terrível maí estar e desespero do pânico psicótico, o fenômeno universal da angústia se faz presente".(Aricó, 1993, pag37).

No Dicionário de Filosofia de Nicola Abagnano, Encontramos no verbete Angústia: "No seu significado filosófico, isto é, atitude do homem em face a sua situação no mundo, o termo foi introduzido por Kierkegaarde. A raiz de angústia é a existência como possibilidade. Diversamente do temor e de outros estados análogos, se refere sempre a algo determinado. A angústia não se refere a nada de precioso: ela é puro sentimento de possibilidade. O homem no mundo vive de possibilidade, já que a possibilidade é a dimensão de futuro e o homem vive continuamente pretendido para o futuro. Mas as possibilidade que se apresentam ao homem não têm nenhuma garantia de realização. Só por uma piedosa ilusão elas se lhe apresentam sempre a alternativa imanente do insucesso, do fracasso e da morte, como afirma Kierkegaarde 'no possível tudo é possível', o que quer dizer: uma possibilidade favorável não tem maior segurança do que a possibilidade mais desastrosa e horrível. Logo, o homem que se apercebe disso, reconhece a vaidade de toda prudência e não tem diante de si senão duas vias: o suicídio e a fé."(Abbagnano, 1982,pag56). Assim como Kierkegaard, Jasper procura diferenciar a angústia do medo e do temor. Enquanto o medo se refere a algo em particular, a angústia é livre e flutuante e não possui objeto definido e claro.

Nos parece muito apropriado aqui salientar a noção de Binder, citado por Aricó, Segundo este filósofo a angústia deve estar classificada como angústia vital, em ralação ao corpo; angústia real que é produzida pelo confronto do indivíduo com as circunstância angustiantes e objetivas e por fim a angústia da consciência moral, e neste caso uma nítida relação com os sentimentos de culpa desencadeadoras de auto-agressões em todos os níveis de destrutividade. Neste incurso Kieholz, propõe uma distinção entre angústia moral inconsciente e consciente. Que se relaciona com às acepções neuróticas. Neste pensamento já encontramos a influência da escola Psicanalítica. Outra posição a ser considerada deriva das teorias de Schulte e Batrtegay, que falam da angústia existencial, ou angústia da alma, um constituinte inerente a existência humana. Sartre e Heidegger, também trilharão este caminho.

Antes de partimos para a incursão do termo desenvolvido por Freud, se faz necessário expormos as considerações de Max Scheler referentes a sua teoria da vida emocional. "Genericamente Scheler descreveu quatro espécies de sentimentos que se baseiam em uma estratificação do mundo criado por Hartmann: o extrato material, o biológico, o psíquico e o espiritual."( Aricó, 1993,pag38). No extrato material o autor expõe os sentimentos sensoriais que estão localizados no organismo e possuem uma topografia orgânica, e são atuais e sem continuidade de sentido, são independentes de nossa vontade e portanto pré-intencionais. Aqui devemos considerar que até a própria dor existe certo matiz de angústia de modo que parte da angústia poderá ser relacionada ao extrato material. No extrato biológico encontraremos a descrição dos sentimentos vitais, fazendo parte do próprio corpo. Entendemos esta noção de Scheler como um sentimento geral da existência humana em toda a sua totalidade. Tem, aqui um caráter intencional, manifestações da própria experiência de continuidade pessoal através do corpo. Não são derivados da experiência adquirida mas de um mundo primário que percebem as circunstâncias favoráveis ou não da vida. Podemos posicionar aqui a angústia vital.

No extrato psíquico encontramos sentimentos anímicos não ligados a corporalidade e dirigidos ao mundo externo. Encontramos aqui um sentimento com caráter intencional e que ocasiona resposta a um acontecimento externo segundo a trama das perspectivas pessoais inerentes ao mudo interno. Podemos considerar aqui a presença da angústia realística e angústia moral, ou seja a angústia mais próxima do medo frente a um perigo real. Já nos sentimentos do extrato espiritual, ou seja sentimentos tão absolutos que não se apóiam em valores, não correspondem a modos e sim a modalidades de ser. Como os sentimentos metafísicos ou supra-intencionais. Scheler descreve apenas dois sentimentos espirituais a serenidade e o desespero. Talvez possamos aproximar desta noção, a angústia existencial ou noética. (Idem).

A ANGÚSTIA EM FREUD.

 
 

Antes de nossas considerações sobre o desenvolvimento do termo na obra freudiana, em especial em seus dois maís importantes artigos "Angústia e vida instintual" e "Inibições Sintomas e Angústia", faremos aqui um apanhado geral do termo dentro segundo a visão de Aricó.

Aricó argumenta que, no início a definição de angústia na obra freudiana teve o propósito de compreender melhor, clinicamente, a neurose de angústia e, a partir de uma abordagem bioquímica explicar as crises de angústia, bem como a irritabilidade, a insônia, as cefaléias através do represamento. Assim esta noção exposta por Freud tinha uma íntima relação com os estados de coito interrompido, por ser estes, um bloqueio da energia libidinal. Freud postula esta energia interrompida semelhante a uma ação tóxica ( Aricó,1993,p.41).

Aquela seria então, uma primeira formulação da teoria da angústia. Mais tarde sobre a influência de Rank sobre o "trauma do nascimento", Freud formularia a sua segunda teoria da angústia, como sendo, esta, um sinal dirigido a mãe protetora em busca de apoio, pela criança em estado de desamparo biológico e psíquico: "Freud compreende agora a neurose de angústia a partir de uma situação traumática primária que não foi devidamente ab-reagida, ou seja parte do trauma foi represado do psiquismo criando-se assim uma defasagem temporal entre o estímulo e resposta."(Ibid,Idem).

Freud, nesta segunda teoria da angústia, segundo Aricó, postula uma importante diferença entre a angústia automática e o sinal de angústia. A angústia automática se refere a reação do indivíduo frente a uma situação traumática. Já o sinal de angústia se registra através do modo atenuado da angústia descarregada primitivamente no período do trauma e portanto possibilitando ao ego o estabelecimento do mecanismo de defesa.

Foi a partir da clínica das neuroses traumáticas que Freud elaborou uma terceira teoria da angústia, "contradizendo o princípio do prazer ou seja o indivíduo perde por exemplo, uma pessoa da família em um acidente automobilístico, do qual escapa com vida, Depois de algum tempo começa a sonhar repetidas vezes com a cena do acidente ou seja, com a cena traumática e acorda profundamente angustiado."(Idem,p.42) A partir deste pressuposto Freud começa a questionar as razões de tal contradição e chega que: "o indivíduo através da vivência repetida da cena traumática consegue lidar com a angústia, pois agora o ego pode adquirir certo domínio e controle, para se prevenir face ao perigo da realidade."(Ibid, Idem).

A vivência repetida da situação traumática deverá funcionar como um mecanismo de ego, com o objetivo de auto-vacinar-se: "O trauma, sempre vinculado ao desamparo do ego e conseqüentemente ao desamparo psíquico pode através doas repetições já aludidas, proporcionar um controle egóico necessário para que a vida psíquica defenda-se dos perigos externos e internos".( Ibid, Idem).

Segundo Aricó estas três teorias não se excluem mutuamente já que como argumentou Freud, elas funcionam de forma complementar devido a complexidade de várias manifestações psicológicas do ser humano. Ou melhor parte da angústia deve-se a transformação da libido, outra parte deis respeito a angústia sinal, referente a fragilidade da criança frente ao confronto como o mundo externo, fora da vida intra-uterina, onde esta amparada de forma onipotente e simbiôntica pela mãe e ainda outra parte que será repetida inúmeras vezes como auto-vacinação psíquica capaz de organizar melhor as defesas do ego no controle das situações traumáticas.

Aricó, poderá ainda sobre a angústia de castração: "Em suas primeiras publicações sobre a psicanálise Freud fez referência a uma idéia insuportável ou incompatível que obria o psiquismo ao recalcamento... A separação da mãe que obriga o recém nascido em estado de enorme desamparo, buscar autonomia correspondente a primeira castração". ( Iden, p.43) E bom salientar que Aricó coloca a castração, nào só no relacionamento com o pênis que é o objeto de maior catexia, mas com toda relação de perda.

A ANGÚSTIA NO TEXTO DE 1926.

 
 

O texto INIBIÇÕES, SINTOMAS E ANGÚSTIA, trata da segunda teoria da angústia, porém, antes de enveredarmos pelos caminha freudianos gostaríamos de abordar aqui que como já foi possível pontuar nos estudos de Aríco, um primeiro trabalho escrito por Freud, onde a angústia foi tratada como um represamento da energia libidinal e que se assemelhava a uma ação Tóxica. Freud tratou desta primeira teoria nos documentos de 1916, mais precisamente na conferência XXV, intitulada "A angústia" traduzida para o português como "A Ansiedade". Na edição estandard Brasileira este texto se encotra no volume XVI, p.457.

Partiremos da segunda teoria, já que durante o desenvolvimento desta e a da terceira de 1933, várias referências serão feitas a primeira.

Freud abre o capítulo VIII de "Inibições, Sintomas e Angústia ( Ansiedade , apresentando o questionamento "O que é realmente Angústia?" e começa respondendo que é, primeiro lugar algo que se sente, um estado afetivo, com um caráter muito acentuado de desprazer, mas que nem todo o desprazer pode ser chamado de angústia, já que outros sentimentos como, a tensão a dor o luto, também tem caráter de desprazer. A angústia segundo Freud nesta conferência parece ter uma aspecto próprio e que se faz acompanhar de sensações físicas mais ou menos definidas, que podem ser referidas a órgãos específicos do corpo. Freud neste momento de sua narrativa liga a angústia aos órgãos respiratórios e ao coração: "Eles proporcinam provas de que as inervações motoras - isto é, processos de descarga - desempenha seu papel no fenômeno geral da angústia."(Freud, v. XX, p.156).

Deste primeiro encadeamento lógico, Freud tira que a angústia carrega em si primeiro um caráter específico de desprazer; segundo, os atos de descarga e terceiro a percepção desses atos. "A angústia é portanto é um estado especial de desprazer com atos de descarga ao longo de trilhas específicas". (p.156) assim e com base em suas posições gerais a angústia se acha baseada em um aumento de excitação, que por um lado produz o caráter de desprazer e, por outro, encontra alívio através da descarga. Esta é uma análise calcada na abordagem fisiológica e quanto a isto Freud se refere a necessidade de se pautar a presença de um fator histórico: "um estado de angústia é reprodução de alguma experiência que encerrava as condições necessárias para tal aumento de excitações e uma descarga por trilhas específicas, e que a partir dessa circunstância o desprazer da angústia recebe se caráter específico."(p.156).

Assim pela primeira vez no texto Freud vai aludir ao trauma do nascimento e suas relações com a angústia que é par ele uma experiência prototípica do primeiro. Antes mesmo de qualquer crítica, como lhe é de hábito, propões as objeções imediatas: "pode-se argumentar que, com toda probabilidade, é comum a todo organismo, certamente todo organismo de ordem superior, ao passo que o nascimento é experimentado, apenas pelos mamíferos, sendo de duvidar se até mesmo em todos eles o nascimento tem o significado de um trauma."(p.157) Estas objeções segundo ele ultrapassam as barreiras do biológico e psíquico e a angústia tem uma funcão biológica indispensáveis a cumprir como ração a um estado de perigo.

Partindo destes postulados Freud interroga: "Se a estrutura e a origem da ansiedade forem conforme o descrito... ... Qual a função da angústia e em que ocasião ela se reproduz?".(p.157), e responde de maneira "óbvia" que a angústia surgiu originalmente como uma reação a um estado de perigo e é reproduzida sempre que um estado dessa espécie se repete: "No nascimento é provável que a inervação, ao ser dirigida para os órgãos respiratórios esteja preparando o caminho para a atividade dos pulmões, e, ao acelerar os pulsações do coração, esteja ajudando a manter o sangue isento de substâncias tóxicas". (p.158) Assim a reprodução desse estado em outra situação de perigo substitui uma reação apropriada ao perigo atual. Então a angústia pode agir de duas formas, a primeira como uma maneira inadequada quando tenha ocorrido uma nova situação de perigo, ou de uma maneira conveniente, a fim de dar um sinal e impedir que tal situação ocorra.

A angústia atual é um rememorando de uma angústia sofrida anteriormente frente a uma situação de perigo. Mas o que vem a ser este perigo? "No ato do nascimento há um verdadeiro perigo, para a vida. Sabemos o que isso significa objetivamente; mas num sentido psicológico nada nos diz absolutamente. O perigo do nascimento não tem ainda qualquer conteúdo psíquico. Não podemos possivelmente supor que o feto tenha qualquer espécie de conhecimento de que existe a possibilidade de sua vida ser destruída. Ele somente pode estar cônscio de alguma grande perturbação na economia de sua libido narcísica. Grande soma de excitação nele se acumulam, dando margem a novas espécies de sentimentos de desprazer, e alguns órgãos adquirem maior catexia, prenunciando assim a catexia objetal que logo se estabelecerá. ".(p.158). A partir deste ponto Freud começa seus questionamentos referentes as possibilidades ou não do infante dos primeiros meses poder recordar o evento do nascimento e para tal usa as concepções de Rank sobre as relações entre as primeiras fobias e o evento do nascimento, do qual desenvolve algumas conclusões, como por exemplo que um certo preparo para a ansiedade se acha sem dúvida presente na criança de colo e que a medida que se processa o desenvolvimento mental, e dura durante um certo período da infância e assim que a imagem mnêmica que a criança tem da pessoa pela qual ela sente anseio é sem dúvida intensamente catexada, provavelmente de forma alucinatória inicialmente, assim o anseio se transforma em angústia.

Freud contínua a discorrer o que vem a ser esta representação de perigo para a criança: "A angústia parece como uma reação à perda sentida do objeto e lembramo-nos de imediato do fato de que também a angústia de castração constitui o medo de sermos separados de um objeto altamente valioso, e de que a mais antiga angústia - a angústia primitiva do nascimento - ocorre por ocasião de uma separação da mãe."(p161). Essa discussão invereda-se pelos caminhos de definir não só a perda objetal mas o significado representacional deste perigo. Quando a criança de colo deseja perceber a presença de sua mãe é somente porque ela já sebe por experiência que esta satisfaz todas as suas necessidades sem delongas. A situação, portanto, de ela considera como um perigo, e contra a qual deseja ser protegida é a de não satisfação, de uma recente tenção devida à ;necessidade... A situação de não satisfação na qual as quantidades de estímulo se elevam a umg rau desagradável sem que lhes seja possível ser dominadas psiquicamente ou descarregadas deve, para a criança, ser análoga à experiência de nascer - deve ser uma repetição da situação de perigo."(p.161)

Para melhor posicionar os mecanismos de raciocínios do criador da psicanálise, faremos agora um paralelo para a compreensão. Primeiro definiu que angústia é um estado de tensão frente a uma situação de perigo, depois sob influência de Rank pessoa consideração sobre estes estados de perigo atuais e os provocados pelo evento do nascimento. Para identificar esta situação parte para a análise de crianças de colo, em função impossibilidade de fazê-lo com crianças de tenra idade. Neste momento ele parte para o estudo das possíveis relações de perigo. "Quando a criança houver descoberto pela experiência que um objeto externo perceptível pode pôr termo à situação perigosa que lembra o nascimento, o conteúdo do perigo que ela teme é deslocado da situação econômica para a condição que determinou essa situação, a saber, a perda do objeto."(161), então é a ausência do sentimento de proteção da mão que constitui o perigo e é desta forma que o enfante trata pela primeira vez de sua autopreservação.

Então a angústia é um desamparo mental da criança o qual é um limite natural de seu desamparo biológico: "O que acontece é que a situação biológica da criança como feto é substituída pra ela por uma relação de objeto psíquica quanto a mãe. Mas não devemos esquecer de que durante sua vida intra- ulterina a mãe era um objeto para o feto, e que naquela ocasião não haviam absolutamente objetos. É óbvio que nesse esquema de coisas não há lugar para a ab- reação do trauma do nascimento. "(p162). Esta seria então a primeira transformação em angústia. A seguinte se dará frente a angústia de castração, no caso o perigo será de se separar de seus órgão genitais. Depois uma mudança seguinte, cousada pelo superego: "Com a desepersonalização do agente parental a partir do qual se temia a castração se desenvolve em angústia moral - angústia social -. não sendo tão fácil neste momento identificar o que seja angústia"(p.163). E freud parte para suas conclusões: "A transformação final pela qual passa o medo do superego é, segundo me parece, o medo da morte ( ou medo pela vida) que é um medo do superego projetado nos poderes do destino". (p.164)

Neste momento de sua dissertação Freud rememora sua primeira teoria, e pondera sobre a diferença e a necessidade de modificações no conceitual: 'Essa nova visão das coisas exige o exame de outra asserção minha - a saber, o que o ego é a sede real da angústia. Penso que esta proposições ainda é válida. Não existe razão alguma para atribuir qualquer qualquer manifestação da angústia ao superego, embora a expressão angústia do ID necessitasse de correção, isto seira antes quanto a forma do que quanto ao fundo. A angústia é ume estado afetivo e como tal, naturalmente, só pode ser sentida pelo ego. O id pode ter ansiedade como o ego, pois não é uma organização e não pode fazer um julgamento sobre situações de perigo. "No caso não qual ocorre algo no id que ativa uma das situações de perigo pra o ego e que o induz a emitir o sinal de ansiedade para que a inibição precoce, e o caso noa qual uma situação análoga ao trauma do nascimento se estabelece no id, seguindo-se uma reação automática de ansiedade."p(165) . Constitui ainda um fato inegável que na ambivalência sexual, na interferência imprópria no curso de excitação sexual, ou se esta for desviada de ser elaborada psiquicamente, a angústia surge diretamente da libido; em outras palavras, que o ego fica reduzido a um estado de desamparo em face de uma tensão excessiva devida à necessidade é então gerada.".(p.165)

E Freud conclui: "A medida que contínua o desenvolvimento do ego, as situações de perigo mais antigas, tendem a perder sua força e a ser postas de lado, de modo que podemos dizer que cada período da vida do indivíduo tem seu determinante apropriado de ansiedade.".(p.166)

A ANGÚSTIA NA CONFERÊNCIA XXXII DE 1933

 
 

Freud, abre sua exposição da conferência XXXII - ANSIEDADE E VIDA INSTITUAL de 1933, fazendo uma alusão a sua primeira teoria da angústia em 1916. Apresenta a sua primeira exposição segundo seus pensamentos primário de que a angústia se tratando de um estado afetivo relacionados a série prazer-desprazer, com suas correspondentes inervações de descarga, a angústia da primeira exposição era assim, como um precipitado de um determinado evento importante, incorporado por herança. Também conjectura sobre as relações da angústia com o estado de nascimento, creditando à primeira uma relação tóxica. A partir deste ponto ele se prende às diferenciações entre a angústia realística e neurótica, sendo que a primeira teria uma relação, que lhes parecia compreensível, face a um perigo: "Uma análise da angústia realística, reduzimo-la ao estado de atenção sensorial e tensão motora aumentadas, que descrevemos como estado de preparação para a angústia. Estaria como que uma repetição da antiga experiência traumática.(Freud, 1933,p.104

Com referência a angústia neurótica Freud, rememora três condições, sendo a primeira no fato de encontrá-la livremente fluente, em estado de apreensão difusa, como angústia expectante. Em segundo, argumenta, encontrá-la firmemente vinculada a determinadas idéias -as fobias. Por último Freud descreve a angústia na histeria e em outras formas de neuroses graves, onde ou ela acompanha os sintomas, ou surge independente, mas sempre sem qualquer base visível em um perigo externo. Freud termina sua breve exposição da primeira teoria da angústia deixando no ar duas questões: "O que as pessoas temem na ansiedade neurótica? e Como podemos ralacioná-la com a angústia realística sentida em face de perigos externos?. (p.104)

Respondendo estas questões ele argumenta que seu trabalho anterior de forma alguma foi insatisfatório e que sua experiência clínica era referência para a conecção com a economia libidinal da vida sexual: "A causa mais comum da neurose de angústia é a excitação não consumada. A excitação libidinal é despertada mais não satisfeita, não utilizada; o estado de apreensão surge, então, no lugar dessa libido que foi desviada de sua utilização. Freud encontra reforço de suas ponderações no estudo de algumas fobias infantis.

Sobre as considerações referentes ao processo de repressão, freude conclui que: "É a idéia que é submetida à repressão, e que pode ser deformada a ponto de ficar irreconhecível; sua quota de afeto, porém, é regularmente transformada em angústia... se por causa da debilidade infantil do ego,... se por causa dos processos somáticos da vida sexual... Assim os dois mecanismos que produzem ansiedade neurótica coincidem".(p105)

O próximo passo percorrido por Freud, reside nas considerações sobre angústia e sintoma, de onde conclui que a geração da angústia é a que se dá primeiro, e depois ocorreria a formação do sintoma, como se estes fossem criados para evitar a presença da angústia e como ele argumenta este fato também pode ser confirmado partindo do fato que as primeiras neuroses infantis são as fobias. E com isso: "conseguimos responder à questão de saber que coisa a pessoa teme na ansiedade neurótica, e assim estabelecer a conexão entre a ansiedade neurótica e realística. Aquilo que ela teme e, evidentemente, a sua própria libido. A diferença entre essa situação e a da ansiedade realística reside em dois pontos: que o perigo é um perigo interno, ao invés de externo, e que esse perigo não é conscientemente reconhecido."(p.106)

Freud prosegue argumentando a não contradição de suas teorias da angústia e propõe que a angústia serve ao propósito de auto preservação, assim como sinal de um novo perigo e que surge da libido que se fornou de algum modo não utilizável e que também surge de repressão; como é submetida pela formação de um sintoma, e ainda que está psiquicamente vinculada.

Um próximo passo dado por Freud, trata da readequação destes conceitos , agora com referência a uma estrutura da personalidade que se caracteriza por Id, Ego e Superego e apesar de argumentar que o ego é a única sede da angústia, as estruturas id, ego e superego se montram com um determinado elemento de correspondência entre os três tipos de angústia: a realística a neurótica e a moral. A partir dai, passa a exposição de como a ansiedade é gerada em determinadas fobias e com base na repressão de impulsos pelos desejos oriundos do complexo de Édipo: "Era de se esperar que encontrássemos uma catexia libidinal referente à mãe do menino, escolhida esta como objeto, a qual, em conseqüência da repressão, se teria mudade em ansiedade e agora emergia expressa em termos de sintomas, vinculada a um substituto de seu pai. Não posso mostrar-lhes os passos detalhados de uma investigaçsãoão como esta será suficiente dizer que o resultado surpreendente foi o oposto daquilo que esperávamos. Não era repressão que criava a ansiedade; a ansiedade já existia antes; era a ansiedade que causava a repressão... A ansiedade realística".(p.108).

Mas qual seria este perigo real que o menino teme? O perigo real seria a punição de ser castrado, de perder seus órgão genital, não se tratando aqui da castração ser ou não efetuada, más é decisivo que o perigo ameaça de a criança acredita nele e que temer a castração é um dos motivos mais comuns e mais fortes para a repressão e, portanto, para a formação das neuroses. E Freud, avança em seus raciocínios: O temor de castração não é, naturalmente, o único motivo para repressão: na verdade, não sucede nas mulheres, pois embora tenham elas um complexo de castração, não podem ter medo de serem castradas. Em seu sexo o que sucede é o temor à perda do amor... no fundo repetir a situação de ansiedade original, ocorrida no nascimento, que, de fato, também representou uma separação da mãe.".(p.110)

Depois de discutir as contribuições de Otto Rank á psicanálise, Freud descreve a síntese de duas novas situações a serem consideradas sobre a angústia: "primeiro, que a ansiedade faz repressão e não, conforme costumávamos pensar, o oposto; e segundo, que a situação instintual temida remonta basicamente a uma situação de perigo externo".(p.112)

A despeito do processo de repressão sob a influência da angústia, Freud conclui: "o ego faz uso de uma catexia experimental e desperta o automatismo do prazer desprazer por meio de um sinal de ansiedade... Quanto mais a geração da ansiedade pode limitar-se a um mero sinal, tanto mais o ego gasta em ações defensivas que importam em vincular psiquicamente o impulso reprimido, e tanto mais o processo se aproxima de uma superelaboração normal, embora, por certo sem alcançá-la.

Freud acredita que o ego exerce influência colocando em ação o quase todo-poderoso princípio de prazer-desprazer por meio do sinal de ansiedade e conclui: "A angústia neurótica, em nossa forma de considerá-la, transformou-se em ansiedade realística, em temor a determinadas situações de perigo. Contudo não podemos parar ai, devemos dar mais um passo - embora seja um passoa atrás. Perguntamo-nos o que é que realmente é perigoso e temido em uma situação de perigo dessa espécie. Por certo que não é o dano ao sujeito, objetivamente considerado, pois esse dano pode não ter nenhuma importância, psicológicamente, mas seira algo efetuado por ele na mente. Por exemplo, o nascimento, nosso modelo de estado de ansiedade, afinal, dificilmente pode ser considerado em si mesmo causa de dano, embora possa implicar um perigo de danos. O essencial no nascimento, assim como em toda situação de perigo, é que ele imprime à experiência mental um estado de exitação marcadamente intensa, que é sentida como desprazer e que não é possível dominar descarregando-a(p.117). Freud caracteriza este momento como "momento traumático", explica que, o que é temido, o que é o objeto da angústia, é invariavelmente a emergência de um momento traumático, que não pode ser arrostado com as regras normais do princípio do prazer.

Seguindo sua experiência clínica, Freud argumenta a evidência de que são apenas as repressões posteriores que mostram o mecanismo que descreveu, no qual a angústia é despertada como sinal de uma situação de perigo prévia. As repressões primeiras e originais surgem diretamente de momentos traumáticos, quando o ego enfrenta uma exigência libidinal exessivamente grande; elas forma de novo sua angústia embora, na verdade, a partir do modelo do nascimento: "como conseqüência direta do momento traumático, e a outra, como sinal que ameaça com uma repetição de um tal momento"(p.118).

CONCLUSÃO

 
 

Ao término desta breve investigação, concluímos que a assimilação popular do conceito de angústia tem profundo procedimento, e não ocorre como em outros termos popularizados o fato de perder o seu significado referencial.

Se partirmos primeiro da análise filosófica constataremos que os referenciais da investigação freudiana ali residem, podemos com isso nos deparar com várias instâncias do conceito e a cada uma delas podemos identificá-las com estados emocionais.

O trato psicanalítico da angústia e suas relações com as afecções são referenciais necessários para a atividade do psicólogo, assim como o trato paralelo do conceito em relação a estados normais, já que a grande maioria das verbalizações que motivaram nossa investigação, são conformes a esta segunda noção, e identificá-las será de grande proveito do processo terapêutico.

A investigação do conceito, puro e simples, serve como referencial de intelecção, porém junto com ela identificamos o amplo campo para novas investigações que provavelmente estarão sendo realizadas por nós.

BIBLIOGRAFIA:

Laplanche; Jean.

Vocabulário de Psicanálise
/ Laplanche e Pontalis sob a direção de Daniel Lagache; tradução de Pedro Tamen - São Paulo; Martins Fontes, 1992

Abbagnano, Nicola

Dicionário de Filosofia
/ Nicola Abbagnano; tradução coordenada e rev. por Alfredo Bosi com colaboração de Maurice Cunio ... et al. 2ª edição - São Paulo; Mestre Jou,1982.

Arnoud., W.

Dicionáriod e Psicologia
/ W. Arnoud, H.J. Eysenck e R. Meili, coordenadores, Coordenação da edição Brasileira de Waldemar Valle Martins, São Paulo, Loyola,1982.

Aricó, Carlos Roberto.

Os Caminhos da Angústia
/ Carlos Roberto Aricó; Nelson Ito, José Claudio Bastos, colaboradores - São Paulo, Lemos Editora,1993.

Freud, Sigmund.

A Ansiedade, Conferência XXV. Sigmund Freude (1916)- In Obras Completas Ed. Estandart Brasileira, Volume XVI, pag. 457, 2ª edição, Rio de Janeiro, Imago, 1970.

Inibições, Sintomas e Ansiedade,
Sigmund Freude (1926)- In Obras Completas Ed. Estandart Brasileira, Volume XX, pag. 107, 2ª edição, Rio de Janeiro, Imago, 1970.

Ansiedade e Vida Instintual Conferência XXXII ,
Sigmund Freude (1933)- In Obras Completas Ed. Estandart Brasileira, Volume XXII, pag. 103, 2ª edição, Rio de Janeiro, Imago, 1970.


 

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