segunda-feira, 12 de setembro de 2011

UM NÃO AO ENEVOADO RACISMODA PREFEITURA DE RIBEIRÃO PRETO

Romilson Madeira,

Jornalista, Publicitário e Professor Universitário.

Mestre em Ciências da Comunicação pela ECA/USP.

Recentemente fui surpreendido com a minha nomeação para a Comissão de Coordenação e Acompanhamento da Política de Ações Afirmativas para Afrodescendentes de Ribeirão Preto. Fora o fato de não ter sido consultado sobre o meu possível interesse, o que é mais estarrecedor para mim é imaginar como seria possível a alguém participar de tal Comissão em um governo que não tem a mínima seriedade ao tratar das políticas públicas de ações afirmativas.

Obviamente que não aceito e não aceitaria tal nomeação. Isto porque digo não, de forma veemente, ao racismo praticado pelo poder público municipal em Ribeirão Preto. É um racismo com características comuns na atualidade: os seus executores tentam jogar névoa aos olhos da sociedade fingindo fazer o que nunca fizeram e nem vão praticar.

A chefe do executivo, por padrão, sempre se utiliza do carisma populista como arma para o convencimento. O populismo, tradicionalmente, não resolve problemas e maquia a realidade. Na questão do combate ao racismo não é diferente.

A Prefeitura jogou fora anos de lutas e avanços conquistados em políticas para a população afrodescendente. Tudo isso para “não fazer” o que precisava ser feito. Extinguiu projetos e contratou alguns falsos militantes, cooptados em função do salário público e da sua falta de seriedade e compromisso, para não fazerem políticas públicas. Hoje se utiliza de paliativos que são verdadeiras “brincadeiras de faz de conta”.

Situações lamentáveis como os boicotes das Secretarias de Educação e da Cultura a projetos que já estavam implantados e que tinham notórios resultados, com reconhecimento até mesmo em outros estados, se somam, na atual gestão ribeirãopretana, ao desrespeito permanente às lideranças negras do legítimo movimento social. Lideranças que não se vendem em troca de cargos e outras benesses.

Agora, as vésperas do ano eleitoral, surge uma Comissão, criada por portaria pela prefeita, que já nasce equivocada em sua composição. Uma Comissão sem presidência, que não está ligada a um órgão que cuide especificamente das políticas de ações afirmativas – porque tal órgão, prometido pela Sra. Darcy Vera, em documento assinado na época da campanha eleitoral, nunca foi criado – e que não tem o que acompanhar, já que o que se faz na cidade hoje não são políticas públicas, são ações eleitoreiras.

Enfim, e por tudo o que foi dito, digo não a esta nomeação, digo não ao racismo. Meu compromisso com a luta pelo direito dos negros é maior, é uma missão. E eu nunca a abandonaria. Meus ancestrais não me perdoariam.