quarta-feira, 5 de abril de 2017

Bolsonaro e o retorno ao Estado Natural imaginado por Hobbes.



Homo homini lúpus, era dessa forma que Thomas Hobbes entendia o homem em estado de natureza, sem as regras de normatização social, sem o Estado Civil que conhecemos hoje. O homem por natureza de Hobbes é egoísta, pensa que pelo sentimento de ser centelha divina – acredito que, no fundo, todos nós o sentimos, já que somos protagonistas de nossa própria história – estaria acima do bem e do mal. Que sob seu ponto de vista, ele é melhor e mais importante que os demais – afinal ele tem a consciência de si mesmo e isso lhe torna especial, diferente, melhor. O problema denunciado por Hobbes é que todos pensam assim e então teríamos uma guerra de todos contra todos.
 
Para que a convivência fosse possível, todos e cada um de nós deveríamos abrir mão de parte de nossa liberdade transferindo-a a um homem ou a uma assembleia, o direito de legislar e executar coercitivamente o poder político – o Leviatã. E é neste momento que aparecem os ditos iluminados, baluartes da competência e da moral dos bons costumes ou os ditos salvadores. (como no seriado Walking dead. )  É assim que vejo Jair Bolsonaro ( como o Negan e sua Lucy) com uma lógica de “eu sou especial e devo reformar o mundo”. Já vi ou ouvi falar de outros... Hitler, Mussolini, Getúlio, os generais brasileiros, Pinochet entre tantos que as estórias dos livros de histórias ainda nos lembram. Uma lógica simples.... eu sou eleito, iluminado e o resto do mundo a mim tem que se submeter. Uma lógica simples como a narrada na animação FormiguinhaZ onde Z é uma formiga operária que tenta conciliar sua individualidade com a ética do trabalho comunitário do formigueiro. Ele conhece e se apaixona pela princesa Bala, a herdeira do formigueiro, e arma um plano para reencontrá-la. Porém o maligno General Mandíbula ameaça exterminar toda a população trabalhadora e cabe a Z salvar a colônia de formigas das conspirações traiçoeiras de Mandíbula.

Não existe discurso lógico que seja suficiente para contrapor Bolsonaro em uma discussão dialética, ao menos não quando não se tem a mesma forma de entender o mundo. Uma lógica de Leviatã, o salvador que ao empunhar sua Lucy e deve curar a humanidade de seus equívocos – Negros, pobres, gays entre outras diferenças de raça, gênero, etnia, orientação política e social etc. ou seja os não brancos, os não militarizados, os não liberais, os não eleitos pelas hordas celestiais.

E assim, diante do caos profetizado por Hobbes, retornamos ao Estado de Natureza - Homo homini lúpus – homem lobo do homem - potencializamos o surgimento de Negans e Bolsonaros. E eu, diante dos destroços do Estado Democrático de Direito, em particular, oro para que Hobbes tenha se equivocado e ainda sonho com o Bom Selvagem de Rousseau.
Saudações a todos.
Paulo R. Mermejo